terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crônicas Urbanas! Posso caminhar com você?

Dias desses caminhava pelas ruas da minha cidade, tinha destino não estava praticando nenhuma atividade física, apenas me deslocava a pé. Já estava escuro e apesar da iluminação pública (que não é grande coisa) alguns locais até devidos as arvores se torna um pouco mais escuro.

Na verdade, não sei de onde, se o cidadão veio por trás, estava parado num determinado lugar ou veio ao meu encontro, certas pessoas tem a capacidade se serem furtivas e silenciosas, uma questão de dom ou até de mesmo de treino. Mas, me abordou com a seguinte pergunta: “Posso caminhar com você? Estou indo nesta direção”. Bem, quem pode esperar uma abordagem desta de uma pessoa saindo de uma penumbra? Bem, não se trata de preconceito, mas de pura autodefesa, você imagina algumas coisas, ou o cidadão mais a frente irá efetuar um outro tipo de abordagem te ameaçando com algum tipo de arma com o intuito de roubar, ou pode ser um daqueles religiosos que procura abordar as pessoas na rua com o intuito de falar sobre a palavra de Deus e quem sabe lhe vender uma Biblia, ou até mesmo um desocupado viciado que irá lhe pedir uns trocados.

Bem, de forma muito educada lhe respondi, claro, a calçada é pública, é do povo como a praça e o céu é do condor. Brincadeira, não citei Castro Alves, pois nos nossos dias a praça já não é mais do povo e o céu, bem, também não é do condor. Apenas disse que tudo bem, a calçada era pública. E fiquei aguardando o próprio passo, pois o meu mantinha no mesmo ritmo.

Como se encabulado tivesse, o cidadão que até bem vestido estava, com uma pasta na mão passou para o segundo ato: “ Bem, o senhor não me conhece, mas eu sou uma boa pessoa, já fui casado, tive filhos, era trabalhador, mas não sei o que acontece comigo, eu sou perseguido pelo diabo, e as vezes faço coisas erradas, mas estou firme com um propósito de acertar, já sai das drogas, estou vivendo honestamente, eu acredito muito que vou conseguir ainda me livrar disso”. Ops!!! Bem, era um tipo de problema espiritual. Um ser humano atormentado pelo capeta, mas, estava ali ao meu lado andando firme com um propósito. Quase fiquei emocionado.

E o cidadão mantendo o passo firme continuou “Eu tenho um dom. Verdade eu consigo ver nas pessoas o que elas são, e assim que vi o senhor percebi que era uma pessoa boa, do bem, caridosa, honesta, sincera e altruísta” Cara, incrível, o cidadão acertou em cheio, acertou todas as minhas qualidades, não existe sujeito melhor neste mundo do que eu, ao ouvir tudo isso quase uma lágrima escorreu pelo meu olho esquerdo.

Então, chegava a hora do desfecho e o cidadão se mostrando ainda mais acabrunhado, quase que gaguejando e oscilando muito, acabou proferindo “Então, eu aqui caminhando com o senhor, estava sem coragem, mesmo sabendo que o senhor é uma pessoa boa, e não faz parte de mim fazer isto, só vou fazer porque estou desesperado e sei que posso contar com sua compreensão. Eu preciso muito de ajuda porque pretendo voltar para a minha terra e sei o que senhor pode me ajudar”. Neste momento foi eu que vi, juro que pude ver, apesar da penumbra, que os seus olhos vermelhos, e a pele rubra de vergonha por estar fazendo aquilo, e até algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto. E como resposta eu disse apenas uma palavra, “não”, e continuei o meu caminhar.

O cidadão aparentemente não entendeu a minha negativa, e meio espantado, não acreditou que aquela pessoa tão boa que caminhava ao seu lado lhe negava uma ajuda. E ainda seguiu alguns passos mais a frente, o bastante para interpelar um outro cidadão que vinha em nossa direção. “ Moço, estou indo nesta direção, posso lhe acompanhar? ”



Naughty Boy - La La La ft. Sam Smith










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