Ela abriu os olhos, ou achou que tinha aberto, mas acordada
ainda não estava. Num movimento quase mecânico esticou o seu braço para o lado
como se procurasse algo ou alguém, mas, também de forma instintiva recolheu.
Por alguns momentos pensou e pareceu querer identificar onde estava e então aos
poucos, suas lembranças foram tomando uma ordem e esticando o corpo lembrou que
ontem tinha bebido sozinha e nem tinha saído. A prova estava em cima do
“criado” ao lado do celular apagado sem bateria, o litro de Drurys. Afinal para
quem bebe muito, de duas uma, ou tem dinheiro para comprar o que é bom ou se
limita a gostar e apreciar ou não os nacionais, afinal o que importa é beber e
não o “importado”, então assim se bebe mais.
Então, se levantando esboçou um sorriso no canto da boca,
lembrou daquele clichê que meninas boas vão para o céu e as más vão para
qualquer lugar. E achou que estava no lugar certo e na época certa, nem
precisou queimar os sutiãs nos anos 60 e também nem precisa participar das
“marchas das vadias”, afinal o direito era dela, o corpo era dela, tinha sim
todo o direito de fazer o bem entendesse e com quem bem entendesse, afinal
alguma coisa valeu, e estava no Brasil e agradecia muito a isso e imaginava se
tivesse nascido na Arábia Saudita.
Já de pé, com uma xicara de café na mão, olhou um pouco pela
janela, o olhar absorto, procurou também de forma instintiva o cigarro ou parte
dele que estava dentro do cinzeiro e acendeu, após um gole de café requentado,
tragou profundamente a fumaça como se isto fosse essencial para começar o dia.
E mais uma vez olhou pela janela, e mesmo sabendo que podia estar com quem
quisesse, tivesse cercada de “amigas”, puxa-sacos, homens de todos os níveis,
fosse uma pessoa popular, que era inspiração de outras mulheres a serem como
ela, pensou no porque mesmo assim ainda se sentia só.
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