Dias desses caminhava pelas ruas da minha cidade, tinha
destino não estava praticando nenhuma atividade física, apenas me deslocava a
pé. Já estava escuro e apesar da iluminação pública (que não é grande coisa) alguns
locais até devidos as arvores se torna um pouco mais escuro.
Na verdade, não sei de onde, se o cidadão veio por trás,
estava parado num determinado lugar ou veio ao meu encontro, certas pessoas tem
a capacidade se serem furtivas e silenciosas, uma questão de dom ou até de
mesmo de treino. Mas, me abordou com a seguinte pergunta: “Posso caminhar com
você? Estou indo nesta direção”. Bem, quem pode esperar uma abordagem desta de
uma pessoa saindo de uma penumbra? Bem, não se trata de preconceito, mas de
pura autodefesa, você imagina algumas coisas, ou o cidadão mais a frente irá
efetuar um outro tipo de abordagem te ameaçando com algum tipo de arma com o
intuito de roubar, ou pode ser um daqueles religiosos que procura abordar as
pessoas na rua com o intuito de falar sobre a palavra de Deus e quem sabe lhe
vender uma Biblia, ou até mesmo um desocupado viciado que irá lhe pedir uns
trocados.
Bem, de forma muito educada lhe respondi, claro, a calçada é
pública, é do povo como a praça e o céu é do condor. Brincadeira, não citei
Castro Alves, pois nos nossos dias a praça já não é mais do povo e o céu, bem,
também não é do condor. Apenas disse que tudo bem, a calçada era pública. E
fiquei aguardando o próprio passo, pois o meu mantinha no mesmo ritmo.
Como se encabulado tivesse, o cidadão que até bem vestido
estava, com uma pasta na mão passou para o segundo ato: “ Bem, o senhor não me
conhece, mas eu sou uma boa pessoa, já fui casado, tive filhos, era
trabalhador, mas não sei o que acontece comigo, eu sou perseguido pelo diabo, e
as vezes faço coisas erradas, mas estou firme com um propósito de acertar, já
sai das drogas, estou vivendo honestamente, eu acredito muito que vou conseguir
ainda me livrar disso”. Ops!!! Bem, era um tipo de problema espiritual. Um ser
humano atormentado pelo capeta, mas, estava ali ao meu lado andando firme com
um propósito. Quase fiquei emocionado.
E o cidadão mantendo o passo firme continuou “Eu tenho um
dom. Verdade eu consigo ver nas pessoas o que elas são, e assim que vi o senhor
percebi que era uma pessoa boa, do bem, caridosa, honesta, sincera e altruísta”
Cara, incrível, o cidadão acertou em cheio, acertou todas as minhas qualidades,
não existe sujeito melhor neste mundo do que eu, ao ouvir tudo isso quase uma
lágrima escorreu pelo meu olho esquerdo.
Então, chegava a hora do desfecho e o cidadão se mostrando
ainda mais acabrunhado, quase que gaguejando e oscilando muito, acabou
proferindo “Então, eu aqui caminhando com o senhor, estava sem coragem, mesmo
sabendo que o senhor é uma pessoa boa, e não faz parte de mim fazer isto, só
vou fazer porque estou desesperado e sei que posso contar com sua compreensão. Eu
preciso muito de ajuda porque pretendo voltar para a minha terra e sei o que
senhor pode me ajudar”. Neste momento foi eu que vi, juro que pude ver, apesar
da penumbra, que os seus olhos vermelhos, e a pele rubra de vergonha por estar
fazendo aquilo, e até algumas lágrimas escorriam pelo seu rosto. E como
resposta eu disse apenas uma palavra, “não”, e continuei o meu caminhar.
O cidadão aparentemente não entendeu a minha negativa, e
meio espantado, não acreditou que aquela pessoa tão boa que caminhava ao seu
lado lhe negava uma ajuda. E ainda seguiu alguns passos mais a frente, o
bastante para interpelar um outro cidadão que vinha em nossa direção. “ Moço,
estou indo nesta direção, posso lhe acompanhar? ”
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