Estava encurralado. Correra desabaladamente, tentando
escapar. Mas falhara. Agora, ali estava, esbaforido, à mercê das criaturas. A
primeira a atacar foi a onça pintada, com seus dentes e garras afiadas. Depois
dela, vieram todos: o leão, o urso cinzento, o albatroz, a águia americana, o
tigre dentes-de-sabre,a harpia, todos com aqueles olhos vidrados, opacos.
Devoraram-no, destrincharam sua carne, alimentaram-se de seus órgãos,
reduzindo-o a um amontoado de ossos e pele. Sim, deixaram a pele, quase
intacta. Trouxeram a palha, com a qual preencheram o espaço dantes ocupado por
seus órgãos, ossos e músculos. Agora era um boneco, com olhos vidrados e
lustrosos. Penduraram-no na parede e foram embora. Despertou, num sobressalto,
banhado em suor. Recolheu as garrafas de absinto e os instrumentos, jogando-os
na lata de lixo. — É. Vou me aposentar. Vou ser motorista de táxi. — disse, em
voz alta, o velho taxidermista.
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