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onde andam as pessoas interessantes?
[Você pode ler este texto ao som de Socorro]
Depois que terminei meu
namoro, senti que as coisas deram a devida reviravolta que eu tanto proclamava.
De 4 a 6 semanas foi o suficiente pra poeira baixar e chegar ao limbo. O limbo
é aquele lugar calmo, não muito raro, que todo mundo tem dentro de si. Um sótão
que não é escuro, não abriga histórias de terror, não tem nada a ver com os
filmes. Passei um bom tempo lá e confesso que tava até feliz por não ter que me
distrair com ninguém a não ser eu. Depois de todo fim a gente precisa de um
tempo pra cuidar da gente, botar a cabeça no lugar, sair por aí pegando uma
infinidade de gente – papo chato de autoafirmação, aposto que você me entende.
E depois de tudo isso, a gente para lá no limbo pra tomar uma cerveja.
De uns meses pra cá eu senti
nada. Sentia nada, nadinha. Nem por uma, nem por dez das pessoas que jantaram
comigo – e não é exagero, foram dez mesmo. Mexicano, japonês, italiano, comida
no parque, jantar na casa dela, McDonald’s no shopping, rodízio de pizza, crepe
na Voluntários, cachorro-quente num aniversário, sobremesa aqui em casa. A cada
pessoa nascia aquele interesse curioso que era rapidamente sucedido pela
preguiça de se dispor, de ter que contar toda a minha história, de ter que
voltar pro grande jogo das conquistas.
E isso me leva à outra questão: por onde andam essas pessoas que
costumavam puxar a gente? Já falei sobre timing e sobre um monte de
ingredientes pra equação, mas nem exijo amor, não. Uma história à toa, por
menor que seja, só pra não lidar com o egoísmo da solidão. E nada de aparecer
alguém que dêmatch na vida real como a gente dá no Tinder, ninguém
que faça a gente ter vontade de continuar um papo tranquilo sem cobrança, mas
com vontade de continuar. Quando falo em gente interessante, me refiro única e
exclusivamente a quem se conecte com a gente de verdade, para além do mundo
virtual e dos telefones da vida. Outro dia perguntei pra um amigo se ele sentia
que as pessoas interessantes tinham sumido e ele disse que sim. Mais uma corja
de amigos recém-separados e na mesma faixa de idade responderam o mesmo. E isso
me faz pensar se a gente é que ficou desinteressante ou se o limbo emocional –
nossa casa constante com o passar dos anos e dos relacionamentos – acabou
tornando a gente mais exigente e maduro. Ou se realmente anda difícil encontrar
conexão emocional numa época em que os aplicativos de pegação, a variedade de
opções e a falta de tempo costumam transformar em instantâneos os
relacionamentos que já estavam se tornando efêmeros.
Daqui do limbo as coisas vão de mal a monótonas. Cada novo encontro
mostra que a barra de compatibilidade do last.fm tá quebrada. E eu já
não sei mais se é a gente que deixou a coisa da conexão emocional se apagar por
conta do momento, da apatia, da vontade interna de manter as coisas caladas ou
se o mundo não tem proporcionado bons encontros com gente interessante – que
deve andar escondida. Ou nós mesmos nos tornamos desinteressantes pela apatia.
A única coisa que sei mesmo é que o Arnaldo Antunes nunca fez tanto sentido
como hoje. Enquanto eu escrevia esse texto, um trecho dele martelava na minha
cabeça, no meu limbo, na minha falta de interesse: “Socorro, alguém me dê um
coração, que esse já não bate, nem apanha”.
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